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Caldeirão da Bolsa

Arrepiar caminho

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Arrepiar caminho

por TRSM » 19/2/2004 11:32

Arrepiar caminho
lbessa@mediafin.pt
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Talvez a aposta no betão deva mais ao ”lobby” da construção e à sua preponderância no financiamento partidário
Durão Barroso teve razões para sorrir quando foram anunciadas, na semana passada, as perspectivas financeiras da Comissão Europeia para o orçamento comunitário entre 2007 e 2013.

Quando se previa uma diminuição significativa no fluxo de fundos no pós-alargamento, a Comissão vem propor o reforço da coesão e, por consequência, algo próximo dos 25 mil milhões de euros atribuídos a Portugal no actual quadro comunitário.

A adesão da Comissão Europeia às perspectivas dos mais pobres não é exactamente uma surpresa. Bem mais difícil será convencer os mais ricos a pagarem a factura, que lhes será passada por via da elevação do tecto da despesa dos actuais 1% da riqueza europeia para um nível mais próximo do máximo autorizado de 1,24%.

O que justifica a prudência de Manuela Ferreira Leite, ao classificar as propostas como um“ponto de partida favorável para Portugal”, reconhecendo que ainda é cedo para deitar foguetes. Acontece que o passado português não oferece um grande argumento de negociação.

Portugal começa, aliás, a ser usado como exemplo de que a coesão económica e social não garante a convergência. Aliás, quando se fala em alargamento, a mensagem para os novos países membros é: “Sigam o exemplo da Irlanda, que quando teve que optar entre construir uma nova infra-estrutura ou apostar no reforço da qualificação dos seus recursos humanos, optou sempre pela segunda”.

Ninguém se lembra de lhes dizer para seguirem o exemplo de Portugal que perante o mesmo dilema fez a opção inversa. E não vai ser fácil perder o estigma de mau aluno.

Os responsáveis da Comissão vêm agora dizer que os fracos resultados obtidos por Portugal resultam provavelmente de “uma excessiva concentração” dos apoios na região de Lisboa e em auto-estradas (já muita gente tinha desconfiado).

Pelo que a nova etapa terá de contribuir para aposta dos investimentos nos factores mais intangíveis como a investigação, a inovação ou a formação. Nem mais nem menos do que o programa aprovado em 2000, por iniciativa da presidência portuguesa, na Agenda de Lisboa.

Este programa teve uma aplicação prática decepcionante (e não apenas em Portugal) mas há que reconhecer que no que nos diz respeito o erro da estratégia vem muito de trás e deve ser imputado a sucessivos governos, quer do PS quer do PSD.

Talvez a aposta no betão deva mais ao peso do “lobby” da construção e à sua preponderância no financiamento partidário do que a qualquer opção estratégica coerente.

Seja por isso, seja porque estradas e afins falam directamente ao eleitor, seja ainda porque estando o país mal preparado para aproveitar os fundos europeus houve que promover a sua utilização e fazer “vista grossa” para garantir taxas de execução, a verdade é que se impõe mudar as prioridades.

E não devia ser preciso vir alguém de fora dizer.
 
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