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Caldeirão da Bolsa

Há fé no Beato

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Há fé no Beato

por TRSM » 10/2/2004 19:15

Há fé no Beato
Sérgio Figueiredo
Há fé no Beato
Os empresários deste país só se mobilizam politicamentee em grupo para actos corporativos. Não é de hoje. Temacontecido. Pelo menos, há cinquenta ou sessenta anos.Este é, portanto, o mais importante dos compromissos que esta "nova geração", todo este dia reunida no Convento do Beato, tem a obrigação de assumir para com Portugal - o compromisso de que não está ali para resolver os seus problemas, muito menos os seus problemas de curto-prazo.

Não é coisa pouca. Porque isso exige algo que, em três décadas, se transformou numa das maiores raridades do regime democrático: a autonomia empresarial. Decidir sem o poder político.

Mesmo muitos destes homens e mulheres, que vão certamentepedir que o Estado não os proteja,que não hesitam em fazer um discursopoliticamente correcto sobre alivre concorrência, são os primeiros aviver de audiências com ministros. Osmais privilegiados conseguem até levaro seu "pendente" directamente a SãoBento.

Para quê" O que é que um empresáriovai dizer ao primeiro-ministro" Eo que está por detrás da sua conversa,se a sua conversa é sobre negócios"

Está, assim, definido o primeiroCompromisso com Portugal: nãoprestarei vassalagem ao poder político!

O segundo Compromisso com Portugal decorre do primeiro:não pedir que o Estado lhes "dê tempo" para recuperar oatraso. Porque, novamente, o que está por detrás deste pedido"Se a malta está preocupada que a EDP vá parar a mãos espanholase se as batatas e hortaliças são todas importadas, oque este "pedido de tempo" significa senão o da protecção àineficiência"

E, vinte anos depois da integração europeia e das privatizações,vinte anos depois de muitos e muitos milhões de fundoscomunitários, quem não foi eficiente até hoje como pode garantirque o será amanhã"

Se as nossas empresas são, em geral, ineficientes, é porquealguém não fez bem o seu trabalho. Alguns estão no Beato.Por isso, é sempre bonito ver o "mea culpa" que esteCompromisso Portugal certamente paramuitos representa.

Mas, se o que é importante é olhar para a frente, não ficarpreso ao passado, então que estes gestores e empresários dotopo fixem um outro compromisso com os portugueses.

O terceiro: nós vamos investir dinheiro "fresco", criar capitalnovo, o que é aliás coerente com o princípio liberal de "oEstado fora da economia" e com o discurso contra o proteccionismo.

Com estes compromissos, talvez o cidadão comum consigaesclarecer dúvidas antigas: porque o país não se tornou competitivoem vinte anos" porque ainda dependemos dos subsídiosdos outros" porque os nossos empresários têm de vender aosestrangeiros"

Questões que desembocam num único e terrível dilema:problema do modelo económico ou falta de capacidade donosso povo em competir" Será que o modelo se torna inviávelsempre que as barreiras à competição desaparecem"

Como é óbvio, a resposta é "não". Não é uma questão de fé.É de história económica. Não por acaso, o melhor que temos éo que sempre foi obrigado a competir.

2004/02/10 14:28:00

Fonte : BCP Investimentos
 
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